Mobilização, dia 1° de abril, reuniu milhares de pessoas no Rio de Janeiro contra a degradação do ensino público. Manifestantes defenderam constituição de um sistema nacional de educação democrátrico, destinação de 10% do PIB para a educação pública, piso salarial que propicie condições dignas de trabalho e garantia do direito universal à uma educação pública de qualidade.
Diário Liberdade
Milhares de pessoas percorreram, dia 1° de abril, a Avenida Rio Branco do Rio de Janeiro em defesa da educação pública no estado do Rio de Janeiro. A Cinelândia, onde há poucos dias Obama teve que cancelar seu discurso público graças à pressão do povo, assistiu a um novo êxito da mobilização popular, precisamente no aniversário do golpe militar.
A jornada de luta teve uma adesão maciça, na qual professorado, estudantado, funcionári@s, animadoras e animadores... e todas as pessoas ligadas ao mundo da educação, de uma ou outra maneira, saíram à rua contra a destruição do ensino público.
A concentração foi convocada pelo Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública (FEDEP), que no texto da convocatória criticou que no estado do Rio "a educação pública sofre um terrível sucateamento da falta de recursos públicos".
A forte presença repressiva, com vários carros da polícia militar desde o começo da concentração, ficou relativamente diluída no meio dos milhares de pessoas que chegaram à manifestação. "Isto é uma manifestação pacífica e esperamos não ter nenhum problema", desejava uma das pessoas que falaram durante o evento face à presença dos policiais, fortemente armados.
A chegada de manifestantes foi contínua desde as 10:00 horas, início da concentração na Candelária. Dos poucos centos da primeira hora, chegou-se a uma maré humana, que acabou partindo às 13:00 em direção à Cinelândia, ocupando vários centos de metros do comprimento da Avenida do Rio Branco no seu percurso.
A assistência foi tal, que houve dificuldades para @s manifestantes permanecerem na zona marcada para a manifestação, produzindo-se problemas de trânsito da avenida. Foram as próprias pessoas manifestantes as que formaram um cordão de segurança. Ainda, as pessoas pertenciam a todas as faixas etárias e ocupações, demonstrando que os planos que os governos têm para a educação não benefíciam ninguém entre as classes populares.
Poucos minutos depois da chegada à Cinelândia, a chuva aparecia, e o fazia com força. A tenacidade das pessoas manifestantes fez com que, na mesma, se mantivesse a assembleia convocada para depois da passeata. Milhares de pessoas estiveram na histórica praça pelo ensino público.
Reivindicações e metas
A jornada abrangia um amplo leque de reivindicações que afetam a todos os setores relacionados com a educação: estudantes secundaristas, universitários, de educação especial, professores, funcionalismo, recreadores...
A convocatória do FEDEP definia várias lutas:
- pela garantia do direito de todo o mundo à educação pública, como dever do Estado,
- pela constituição de um sistema nacional de educação democrático,
- pelo 10% do PIB para a educação pública,
- pelo transporte gratuíto, acesso aos bens culturais, alimentação, bolsa de manutenção e moradia estudantil,
- por um piso salarial que propicie condições realmente dignas de trabalho,
- pela radical desmercantilização da educação,
- pela garantia de um padrão unitário de qualidade
E, ainda, a mesma organização define 10 metas para uma educação de qualidade: nenhuma criança sem escola, nenhum aluno sem professor/a, nenhum profissional desvalorizad@, nenhum professor/a sem escola, nenhuma escola sem funcionári@, nenhum profissional sem direito à formação, nenhuma escola sem estrutura, nenhuma educação sem democracia, nenhum educador discriminado e nenhuma economia nos investimentos em educação.
Crítica aos planos de Dilma, Cabral e Paes
Segundo o FEDES, "as políticas educacionais contidas no Plano de Desenvolvimento da Educação do governo Dilma, no Plano de Metas de Sérgio Cabral e nas políticas de parcerias público-privadas de Eduardo Paes e de vários outros governos podem apagar o futuro da educação pública".
2,89% do orçamento para educação
O FEDEP denunciou com a convocatória "a segregação educacional e as políticas que somente aceleram o desmonte da escola pública". Ainda, anunciava-se a intenção dos governos de entregar "as escolas ao setor privado para serem administradas por empresas, fundações e seitas religiosas", para o qual previamente "estrangulam os recursos para a educação".
Para demonstrar isso forneceram dados de 2010, conforme os quais apenas 2,89% do orçamento foi dedicado à educação. Resulta muito interessante confrontar esse dado com os 44,93% do orçamento dedicado para juros, amortizações e refinanciamento da dívida. 62,18% até chegar ao total foi dividido entre 25 ítens diferentes. Precisamente, uma das maiores reivindicações foi chegar, ao menos, aos 10% do PIB dedicado para educação pública.
Intervenções e entidades
Foram inúmeras entidades nas ruas do Rio de Janeiro contra a venda e a degradação da educação pública. Algumas já bem conhecidas, e outras de nova aparição, como o coletivo "Levante Já", constituído faz poucos dias.
O Diário Liberdade falou com Gissela, que apontou que "Levante Já" tenciona ter presença, neste âmbito de luta, no estudantado universitário mas sobretudo no secundarista. Gissela, disse que o que o coletivo pode trazer de novo é que "nós procuramos defender o interesse do estudante diante de tudo, sem dependência de nenhum partido político". De "Levante Já" apontam que "a cada ano perdemos direitos conseguidos durante anos de lutas", e o passe-livre é um dos âmbitos nos que a nova organização centra a sua atividade.
SEPE, ANEL, ALERJ, CSP-Conlutas, PSTU, PSOL, PCB, MST, SE, Hora de Lutar, Terra Trabalho e Liberdade, MEPR, RECC, SINPRORIO... são só algumas das organizações, sindicatos e movimentos que estavam no centro do Rio de Janeiro.
Houve interessantes intervenções de estudantes, representantes das organizações, professorado... chamaram a continuar a luta, e carregaram principalmente contra o governador Cabral, e mesmo apontaram que a situação atual "vêm das exigências" das instituições imperialistas.
Apoio às pessoas reprimidas pela visita de Obama
De novo, durante toda a jornada, esteve presente o apoio às 13 pessoas que sofreram prisão política durante a visita de Obama ao Rio. Cyro Garcia, presidente estadual do PSTU, repetiu que as detenções "foram aleatórias" e que só aconteram "meia hora após os incidentes". Conforme disse Cyro, as pessoas teriam sido detidas "quando chegou uma chamada para a polícia" exigindo responsáveis pelo coquetel molotov no consulado dos EUA. Chamou de "provocadores irresponsáveis" às pessoas que "atiraram o coquetel molotov e depois sumiram".
Para as 19:00 havia sido convocado um ato público em defesa d@s 13 perseguid@s polític@s do Consulado dos EUA, pelo arquivamento do processo, em defesa das liberdades democráticas e pela não criminalização dos movimentos sociais. O presidente do PSTU no estado do Rio finalizou o ato chamando à continuidade da luta contra a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza
"A luta continua!" –repetia hoje a massa de manifestantes. E a julgar pela participação no ato, tem forças para continuar.
Fonte: Carta Maior
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