No mês de março as mulheres trabalhadoras estarão nas ruas, nas escolas, nas fábricas lutando contra o machismo e a exploração capitalista que atinge de forma mais cruel às mulheres trabalhadoras.
O setorial de mulheres da CSP-Conlutas, nesse mês irá organizar nos estados, municípios um calendário de atividades com atos a serem realizados na semana do dia 8 de março, bem como, debates e palestras nas entidades.
A representante do Movimento Mulheres em Luta e também membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, Janaína Rodrigues, em entrevista dada à Central, falou sobre as perspectivas para esse 8 de Março e os desafios das mulheres trabalhadores nesse ano de 2011.
O dia internacional da mulher nesse ano de 2011, será no feriado de carnaval, diante desse fato, como estão os preparativos para as manifestações do 8 de Março nos estados?
Janaína - É a segunda vez, nos 101 anos do 8 de Março, que a data coincide com o carnaval. Nem por isso vamos deixar de fazer o ato político. Em alguns estados onde há tradição de blocos reivindicatórios de rua, como Rio de Janeiro, Brasília e Maranhão vamos participar com nossas bandeiras. Onde há tradição de blocos de sindicatos, como é o caso de São José dos Campos, também. A data do ato político nacional será dia 12 de março. Queremos que o mês de março esteja voltado ao tema, por isso, em nossas entidades haverá atividades de formação, debate e ação frente ao tema. O calendário pode ser acompanhado por nosso site.
Em São Paulo e nos estados esses atos ocorrerão em unidade com outros setores?
Janaína - Estamos para completar três meses do governo da primeira mulher à presidência da república e já assistimos medidas que afetam e prejudicam diretamente as mulheres, tais como o irrisório aumento do salário mínimo, o anúncio de cortes no orçamento, o aumento dos parlamentares e outros. Isso nos diz que é necessário termos um movimento forte para barrar essas ações, que devem seguir. Nesse caso, a unidade na ação com todos os setores que querem luta é fundamental. Por isso, estamos indo para um ato unitário em vários locais do país, inclusive em São Paulo. Achamos importante marchar junto, mas com nossas bandeiras e reivindicando a independência do movimento. Em cada ato, vamos organizar uma coluna de mulheres classistas e anti-governista.
O Dieese divulgou uma pesquisa dizendo que as mulheres ganham 76% a menos do que os homens, em sua opinião esse desigualdade ocorre por qual motivo?
Janaína - Esse dado é muito interessante porque há uma idéia de senso-comum que as mulheres já atingiram a plena igualdade, uma grande mentira. Quando comparamos o tema do salário vemos claramente como o sistema capitalista se apropria das diferenças sexuais, transforma-as em desigualdades e as utiliza para justificar a exploração e a opressão. Faz isso porque a mão de obra feminina, ao ficar mais barata, amplia a exploração e ajuda a regular o preço da mão de obra no geral, contribuindo para o aumento do lucro dos patrões.
Por que a Lei Maria da Penha precisa ser aperfeiçoada?
Janaína - Nenhuma lei é suficiente para resolver um problema estrutural. Para avançarmos na luta contra o machismo e pela valorização da mulher temos de lutar pelo fim da sociedade de classes. A Lei Maria da Penha é uma lei que já nasceu incompleta e insuficiente e até com pouca aplicabilidade porque não prevê gastos para sua implementação, também não pune devidamente os agressores e não prevê construção de casas-abrigo para as mulheres. Se você compara a Lei com a legislação penal anterior, é possível dizer que houve uma importante adequação dos crimes contra a violência à mulher que não existiam antes da Maria da Penha. Agora, se você passar uma régua e olhar as estatísticas verá que a Lei não está sendo aplicada e mesmo que fosse seria insuficiente. Então, nossa luta é para que ela seja aplicada, mas principalmente, que ela seja ampliada. Afinal, a violência está matando as mulheres.
Por que, mesmo tendo uma mulher como presidente, as mulheres brasileiras têm que continuar lutando?
Janaína - Da mesma maneira que um operário, como foi Lula, não atendeu aos trabalhadores, uma mulher, por sua condição de mulher, também não atenderá as mulheres somente por sua condição de gênero. O que diferencia um governante é a condição de classe. Dilma, apesar da intensa propaganda de mídia, não governa para os trabalhadores/as. E, mesmo que assim o fizessem, teríamos de seguir lutando, porque para dar fim ao machismo é necessário construir uma sociedade socialista.
Quais os principais desafios das mulheres nesse ano de 2011?
Janaína - É, primeiramente, desmistificar a idéia de que uma presidenta pode resolver nossa situação, explicando todos os dias, pacientemente, a todos os trabalhadores. A segunda é seguir com nossas bandeiras, sempre firmes, com independência e pautadas no classismo. Nesse sentido, nossas principais bandeiras são: o aumento dos salários, pelo piso do DIEESE (R$ 2.227), a luta contra a violência à mulher, pois no país a cada dois minutos cinco são agredidas e cada duas horas uma é morta, pela construção de creches públicas e gratuitas em período integral, pela licença-maternidade de 6 meses, rumo a um ano, sem isenção fiscal, e pela legalização do aborto.
Janaína Rodrigues, da executiva da CSP-CONLUTAS e do Movimento Mulheres em Luta.
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