sábado, 3 de dezembro de 2011

PARA ALÉM DAS AVALIAÇÕES

Escrito por Paulo Pio, especial para o blog

Lanche servido a 7h da manhã. Campanha de incentivo a freqüência e ao desempenho. Visita a casa dos faltosos para idenditificar a causa da ausência. Funcionários buscando alunos em suas casas para não chegarem atrasados. Entrega de lápis, caneta e borracha. Gestores presentes e sorridentes para os alunos e professores. Visita dos representantes da Secretaria de Educação. Zelo pelo silêncio no ambiente escolar.

Concordamos totalmente com as práticas citadas no parágrafo anterior. Mas, infelizmente, não as vemos acontecer diariamente nas nossas escolas públicas. A não ser que se trate do dia em que os alunos são submetidos aos testes de avaliação externa, como a Prova Brasil, a Prova PAIC e Spaece.

Como já é do conhecimento de todos, com os resultados dessas avaliações elabora-se um ranking de escolas de acordo com o desempenho dos alunos. A obsessão por aferir os resultados do ensino leva a supor que este simples ordenamento hierárquico das avaliações melhora por si mesmo o rendimento qualitativo dos estabelecimentos escolares. Nesses casos, trata-se de uma avaliação que não avalia as condições de ensino e que não envolve diretamente o corpo docente, portanto não é avaliação e sim uma simples mensuração de dados quantitativos.

Avaliações padronizadas dão uma fotografia instantânea do desempenho. Testes devem ser usados com sabedoria, apenas para dar um retrato da educação, para dar uma informação.

Quando atrela-se a qualidade da educação a um único meio avaliativo, desconsiderando todos os aspectos materiais e estruturais em que se encontram as nossas escolas, as condições de trabalho e condições sociais de nossos alunos e professores, falsifica-se a realidade, e tenta-se de forma apelativa e alienante, transferir a responsabilidade para o chão da escola. Nesse sentido, qualquer medição fica alterada quando seus meios não envolvem o fato de os ambientes estarem ou não favoráveis ao desenvolvimento da cognição humana, com recursos humanos e estruturais propícios e proprensos à aprendizagem.

A super valorização pela estratégia de avaliações tem induzido a alguns tipos de trapaças e manobras para driblar o sistema e outros tipos de esforços duvidosos para alcançar as metas estabelecidas pelas políticas públicas educacionais. Como o percentual de alunos avaliados influi no desempenho da escola, alunos que já são considerados evadidos ou transferidos são resgatados somente para participarem da avaliação. No dia seguinte, o aluno que não frenquenta, continua como antes e o transferido retorna para sua atual escola. A intensiva campanha de frequência é finalizada com a realização da prova. Absurdamente, os alunos doentes também são convocados para não se ausentarem no dia “D”. Temos presenciado inclusive o atrelamento da continuidade de recebimento de benefícios sociais com a presença do aluno no dia da aplicação da prova externa.

Isso também leva a uma redução do currículo, associado a recompensas e punições em avaliações de habilidades básicas em leitura e matemática. A divisão da responsabilidade recai principalmente sobre os ombros dos professores e alunos. A estes, são cobrados frequência e desempenho, em troca, lhes oferecem passeios e excursões. Existem municípios que premiam escolas com o 14º salário para todos os funcionários se atingirem o índice desejado. Para isso, os educadores são induzidos a encontrar um jeito de aumentar artificialmente as pontuações estipuladas. Muitos vão passar horas preparando seus alunos para responderem a esses testes, e os alunos não vão aprender os conteúdos exigidos nas disciplinas, eles vão apenas aprender a fazer essas avaliações. São realizados preparatórios super intensivos com os alunos para preencher corretamente o gabarito da prova e resolver questões semelhantes que foram aplicadas anteriormente.

O grande esforço em ensinar a responder testes, enxugar o currículo e outras maneiras de melhorar a nota das escolas, não implica melhorar a educação. Uma boa educação é muito mais que saber responder uma prova.

Uma educação ideal baseia-se em um currículo sólido, que possibilite aos alunos apreender os conceitos que os ajudam a compreender os conflitos que rodeiam a sua realidade social, que atenda as necessidades dos alunos e não seu atrelamento à preparação para o trabalho, que ultrapasse o modelo de reprodução da sociedade dominante.

Para uma boa educação exige-se a imediata implantação do piso salarial dos professores. Para uma boa educação os professores precisam de 1/3 de sua carga horária para se dedicarem ao planejamento das atividades, e os alunos precisam de merenda escolar de boa qualidade, de salas de aulas com melhores instalações físicas e de escolas com ambientes que possibilitem aos professores diversificar sua prática. Uma boa educação não se faz com a aplicação de menos de 5% do PIB, como é o caso do Brasil. Essa educação ideal é apenas possível pela aplicação de 10% do PIB para educação pública, uma educação pública de qualidade inicia-se como os trabalhadores derrotando o PNE do governo Dilma que avança na precarização do ensino público.

Nenhum comentário:

Postar um comentário