terça-feira, 12 de junho de 2012

Servidores caminham para 1ª greve unificada em quase dez anos

Trabalhadores dos servidores públicos federais votam greve conjunta, que já começou nas universidades e deve se estender aos demais setores em junho

O ato foi simbólico. Com os dois braços estendidos, algumas centenas de trabalhadores de variados segmentos dos serviços públicos federais votaram o início da greve nacional unificada da categoria – num período que vai desta segunda-feira (11) em alguns setores (técnicos das universidades) a 21 de junho, data apontada pelos trabalhadores do Judiciário Federal para parar por tempo indeterminado.

Mas, para além do simbolismo, os braços erguidos que encerraram a plenária das entidades nacionais do funcionalismo, na terça-feira (5), em Brasília, representaram algo concreto que há quase uma década não ocorre num setor que fez história com grandes greves conjuntas: a reunificação da campanha salarial da categoria. A última greve unificada nos serviços públicos federais foi em 2003, em meio à luta contra a reforma da Previdência do recém-eleito governo Lula. “Ano passado fizemos 76 dias de greve e tiramos uma grande lição: a de que o isolamento dos trabalhadores traz um grande prejuízo”, disse David Lobão, do sindicato nacional dos trabalhadores das escolas técnicas federais (Sinasefe). “Vamos construir a maior greve dos serviços públicos. Se existe algum responsável por esse movimento, o responsável são eles [governantes], nós estamos apenas sobrevivendo”, complementou.

Plenária após Marcha com mais de 15 mil

Os servidores votaram simbolicamente porque não houve eleição de delegados à plenária, transcorrida sob uma tenda armada no gramado central da Esplanada dos Ministérios, próximo ao Planejamento. O encontro ocorreu logo após a marcha que levou entre 15 mil e 20 mil servidores e estudantes às ruas de Brasília e percorreu, sob um sol implacável, a Esplanada dos Ministérios por quase duas horas até se concentrar em frente ao Ministério do Planejamento. Foi o maior protesto do ano contra o congelamento salarial e as políticas do governo Dilma Rousseff para os serviços públicos.

O servidor Saulo Arcangeli, em nome da federação nacional (Fenajufe), destacou a decisão dos trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU de construírem a mobilização conjunta. O dirigente criticou a postura do governo de na prática não negociar com o funcionalismo de um modo geral e se negar até a conversar com os servidores do Judiciário alegando que são de outro poder da República. “Mas na hora de cortar o orçamento, [é o governo] quem corta”, observou.

Quadro da paralisação

Há desigualdades no quadro de mobilização dos diversos setores do funcionalismo, com maior movimentação na área da educação. Mas, em todos os segmentos, cresce a determinação de construir a greve e fazer isso de forma conjunta. Os docentes das universidades federais já estão paralisados desde 17 de maio. Técnicos administrativos das universidades entram a partir do dia 11. Funcionários das escolas técnicas param por tempo indeterminado no dia 14.

Os servidores da administração direta e determinadas autarquias, reunidos na Condsef, apontaram o início da greve para 18 de junho. Trabalhadores do ramo da seguridade social constroem as condições para também parar. Os auditores fiscais da Receita Federal fazem ‘operação-padrão’ nos dias 13 e 14 próximos. No Judiciário Federal e MPU, a categoria promove atos e paralisações nestes dois dias e prepara a greve para 21 de junho.

O processo de unidade em curso passa pela atuação conjunta das três principais centrais sindicais que atuam no funcionalismo federal: CSP-Conlutas, CUT e CTB, que divergem sobre como veem o governo Dilma Rousseff, mas buscam pontos comuns na luta contra o congelamento salarial e os ataques aos serviços públicos. “Conseguimos construir a unidade na diversidade”, disse Jairo, da CTB. O representante da CUT disse acreditar na consolidação de um forte movimento. O representante da CSP-Conlutas, Paulo Barela, ressaltou que os servidores devem estar unidos caso pensem em evitar derrotas, já que são os principais alvos das medidas econômicas decorrentes da crise, e constituir um movimento vitorioso. “Nós vamos construir a maior greve do funcionalismo público federal e nós vamos dobrar esse governo”, disse.

Por Hélcio Duarte Filho
Luta Fenajufe Notícias
Foto: Andes-SN

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