quarta-feira, 4 de abril de 2012

Zé Maria do Tomé: Um exemplo de luta por seu povo

Zé Maria do Tomé, ativista do movimento social, da região do Vale do Jaguaribe (CE), tombou defendendo o meio ambiente e os povos que da terra tiram seu sustento. O companheiro foi morto pelo o agronegócio, pois defendia o fim da pulverização de uma área na chapada do Apodi junto a CSP-Conlutas. 

Zé Maria foi morto no dia 21 de abril de 2010 com 25 tiros, disparados de maneira covarde, pelas costas. Dois anos após sua morte, a injustiça ainda impera e os assassinos estão soltos.

Segue um poema em sua homenagem e conta sua história de luta.

ZÉ MARIA DO TOMÉ

Um exemplo de luta por seu povo

Autor: Jorge Macêdo


Terras manchadas de sangue

Injustiças confirmadas

Indignação e luto

Levantes e barricadas

São capítulos do histórico

De vidas prejudicadas


Com tantas desigualdades

Atos torpes e tiranos

O poderio econômico

Contra os valores humanos

Dá pra ver que pouca coisa

Mudou ao longo dos anos



Os defensores do povo

São sempre desprotegidos

Ignorados por muitos

Facilmente perseguidos

Mesmo com todos impasses

Nunca se dão por vencidos


A fúria da violência

Oprime a dignidade

Muitas investigações

Não esclarecem a verdade

Daí os crimes se ocultam

Nas trevas da impunidade


Já são inúmeros casos

Impunes, Infelizmente

Não se conta quantos líderes

Foram mortos cruelmente

Por que defendiam o povo

A terra e o meio ambiente



Na chapada do Apodi

Numa ação premeditada

Zé Maria do Tomé

Foi morto numa emboscada

Crime horrendo que deixou

A região abalada


Complementando o relato

Do assunto em que prossigo

Tenho uma lista de exemplos

Confira agora comigo

Por que quem defende o povo

Vive em constante perigo


Lembra Antônio Conselheiro?

Religioso que quis

Ver os pobres sertanejos

Numa vida mais feliz

Deu-se o maior genocídio

Da história do país


Chico Mendes outro mártir

O maior dos seringueiros

Defendendo a Amazônia

Vida digna aos companheiros

Tornou-se inimigo e morto

Por ordem dos fazendeiros


Alagoa Grande sente

A falta de Margarida

Que tombou assassinada

Em frente a sua guarida

A gana dos usineiros

Veio ceifar sua vida


Padre Jósimo Tavares

Foi mais um dos brasileiros

Que já tombaram na mira

Das armas dos pistoleiros

Porque não era a favor

Da ganância dos grileiros



Irmã Dorothy no Pará

A Santa missionária

Parou a sua missão

Em uma ação sanguinária

Dos que não querem nem deixam

Fazer a reforma agrária


Ainda têm muitos outros

Que eu poderia falar

Mas deixo pra outra vez

Porque eu vou retornar

Ao caso de Zé Maria

Nosso líder popular


Foi José Maria Filho

Um exímio ser humano

Nascido a quatro de outubro

De sessenta e cinco o ano

Na pequena Quixeré

No Vale Jaguaribano



O povoado serrano

Berço natural de Zé

Pertence a dois municípios

O distrito de Tomé

Uma parte é Limoeiro

E a outra é Quixeré


Casou com dona Lucinda

Mulher de um espírito forte

Mas na tragédia sentiu

A dor de um profundo corte

Ainda hoje lamenta

Sua sina e sua morte


Zé era pai de família

Duas moças e um menino

Márcia que é a mais velha

Soluçou em desatino

Juliane, adolescente

E Gabriel bem pequenino


Com apenas cinco anos

Na orfandade se cria

O pequeno Gabriel

O xodó de Zé Maria

Ainda chora e pergunta

Pelo seu pai todo dia


Veio de família humilde

Neto e filho de operário

Ainda jovem tomou

O mais nobre itinerário

Pois além de agricultor

Foi líder comunitário



Zé passou a ser a voz

Dos conterrâneos sofridos

Nos movimentos de base

Nos protestos reunidos

Combatendo as injustiças

No grito dos excluídos


Enfrentando sacrifício

Rompendo dificuldade

Zé queria o bem comum

Para coletividade

Das setecentas famílias

Da sua comunidade


Era também presidente

De uma associação

Naquela comunidade

Estava sempre em ação

Reivindicando melhoras

Para toda a região


Lutava sempre a favor

Dos sem-terra desgarrados

Trabalhadores rurais

Pobres desapropriados

São pessoas que não têm

Seus direitos respeitados


Pedia escola, saúde

Assistência e moradia

E das casinhas de taipa

O nosso líder queria

A substituição

Por casas de alvenaria


Era o guardião do povo

Do Tomé e região

Os problemas se agravaram

Depois da irrigação

Mas Zé Maria lutava

Em busca de solução


Passou a denunciar

O uso indiscriminado

De diversos agrotóxicos

Num projeto mal falado

Que estava deixando em muito

O povo prejudicado


Pois as substâncias químicas

Sendo assim não fazem bem

Porque envenena o solo

E o sub-solo também

Se continuar assim

Não vai escapar ninguém



Pulverização aérea

Este é o grande mal

Pois o alvo não é só

Os insetos do local

Por que se espalha no vento

E atinge o povo em geral


Zé Maria combatia

O uso de inseticida

A vida a cima do lucro

É a norma preferida

Mas as empresas preferem

O lucro acima da vida


Houve um projeto de lei

Contra a pulverização

Mas quem detém o poder

Domina até sem razão

Da lei que estava aprovada

Fizeram a revogação


A lei era de autoria

Do edil Eraldo Holanda

Mas num confronto de força

A maioria comanda

Atendendo aos interesses

Da outra parte que manda



Assim a população

Continua condenada

A se banhar com veneno

Que despejam na chapada

Em vez de água potável

Beber água envenenada


Em estudos levantados

Pela Universidade

Federal do Ceará

Dizem ter em quantidade

Substância venenosa

Nociva à comunidade


Depois de várias pesquisas

No campo e nas residências

A médica Raquel Rigotto

Constatou as evidências

Da água contaminada

E as graves consequências


Então está comprovado

Zé Maria estava certo

Protestava porque era

Mais audaz e mais esperto

E sentia as ameaças

Desse perigo de perto



Foi mais uma das bandeiras

Que Zé Maria empunhou

Austero, mas coerente

O tempo todo lutou

Lhe custou a própria vida

Mas seu exemplo ficou


Era vinte e um de abril

Do ano dois mil e dez

Aparece o seu carrasco

Com o pior dos papéis

Eliminar sua vida

Com as formas mais cruéis


Duas e meia da tarde

Horário em que Zé Maria

Voltava de Limoeiro

Na moto que possuía

Agonizou baleado

Na margem da rodovia


Sofreu vinte e cinco tiros

O defensor da chapada

Foi erguido um monumento

Na beira daquela estrada

Um marco memorativo

No local da emboscada



O luto cobre a família

Seus amigos e parentes

A morte de Zé Maria

Provocou lágrimas pungentes

Coincidiu com a data

Da morte de Tiradentes


Foi mais um assassinato

Extremamente brutal

Que repercutiu até

Na mídia internacional

Além do amplo destaque

Em toda imprensa local


Até hoje ninguém disse

De onde foi que partiu

Esse desfecho macabro

Que o nosso herói sucumbiu

Impera a lei do silêncio

Ninguém sabe, ninguém viu


Aos quarenta e quatro anos

Quase que precocemente

Zé Maria deu a vida

Pela vida de uma gente

Que só exige o direito

De viver condignamente


Vamos usar o bom senso

Pra ver se o mal se afasta

Vamos dar fim esta guerra

Que há tanto tempo se arrasta

De perseguição já chega

De violência já basta


Ambientalista nato

Amigo da ecologia

Seus ideais estão vivos

Descanse em paz Zé Maria

Não vamos arrefecer

Os seus sonhos hão de ser

Realizados um dia


Autor: Jorge Macêdo
Tabuleiro do Norte – Ceará
20/04/2011

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